quarta-feira, abril 18, 2007



FHC e pais do Real se calam sobre Nassif

O jornalista Luiz Nassif, em entrevista a Terra Magazine, acusou uma manipulação do câmbio em 1994/95. Procurados, FHC, André Lara Resende e Gustavo Franco não responderam à acusação.


Redação Terra


O presidente Fernando Henrique Cardoso e dois dos "pais" do Plano Real responderam com silêncio absoluto à acusação, feita pelo jornalista Luís Nassif, de que houve manipulação do câmbio em 1994/95 com o objetivo de favorecer com "centenas de milhões de dólares" o banco Matrix, do qual foram sócios os tucanos André Lara Resende e Luís Carlos Mendonça de Barros.

Terra Magazine publicou uma entrevista com Nassif na segunda-feira. Nela, o jornalista, autor do recém-lançado livro Os Cabeças-de-Planilha - Como o Pensamento Econômico da Era FHC Repetiu os Equívocos de Rui Barbosa, fez um ataque direto a Lara Resende (leia aqui). "Eles (os formuladores do Real) tomaram um conjunto de medidas técnicas cuja única lógica foi permitir enormes ganhos para quem sabia para onde o câmbio ia caminhar. E o grande vitorioso desse período é o André Lara Resende, um dos formuladores dessa política cambial."

Referindo-se à sobrevalorização do Real, Nassif responsabilizou FHC pela "perpetuação do erro" e o qualificou como "presidente vacilante e com pouca visão de futuro".

Na mesma segunda-feira, Terra Magazine procurou Lara Resende, FHC e Gustavo Franco, um dos presidentes do Banco Central durante o governo do tucano. O primeiro vive hoje em Londres, mas mantém uma secretária no Brasil. Ela disse que repassaria a seu chefe o link da entrevista, mas não deu garantia de retorno, alegando que ele "viaja muito". Franco e FHC foram procurados por intermédio de suas assessorias de imprensa e, passadas 48 horas, não se manifestaram.


Leia a seguir alguns comentários do livro de Nassif sobre os economistas que formularam o Real e/ou trabalharam na sua implementação:


"(...) Nos meses que antecederam a implantação da nova moeda, Winston Fritsch reuniu-se reservadamente em São Paulo com instituições financeiras internacionais, praticamente fornecendo o mapa da mina da apreciação do real. (...) Um dos presidentes de instituição estrangeira presente no encontro me contou a surpresa deles ao ver um membro do governo passando o mapa da mina cambial. Seu banco entrou no jogo, ganhou bastante, mas não tanto quanto os que tinham plena certeza de que aquele movimento não seria revertido naquele ano."

"André Lara Resende via o plano como uma forma de enriquecimento e ascensão social. Depois de enriquecer com o Real, realizou sonhos adolescentes de comprar cavalos de corrida - que transportou de avião para Londres, quando resolveu passar uma temporada por lá."

"Gustavo Franco era o ideólogo, mas casava com brilhantismo conhecimentos históricos, teóricos e de mercado. (...) Seus passos tinham como um dos objetivos centrais sepultar, varrer do mapa a estrutura industrial moldada no período de protecionismo e impor o primado do capital financeiro, com o voluntarismo que caracteriza todo jovem acadêmico quando no poder. Logo no início do Real, aliás, o Garantia abriu uma ação contra o governo, questionando os critérios de conversão dos títulos cambiais, da URV para o dólar. (,,,) Jamais o banco havia questionado uma medida que fosse do BC. A muitos pareceu um fogo de encontro, para vender a idéia de que não se estaria se beneficiando do fato de ter, entre seus sócios, o pai de Gustavo."

"De Pedro Malan não há registro sobre opiniões que tenha manifestado ao longo dos meses em que foram definidos os princípios do novo plano. Permaneceu oito anos equilibrando-se com o subsídio apertado de ministro. Apenas quando saiu conquistou um alto cargo no Unibanco."

"Os economistas do Real haviam sido os economistas do Cruzado. Lá, aprenderam duas características desses planos. Uma, as extraordinárias possibilidades que se abriam nos mercados de derivativos, devido à falta de clareza sobre os próximos passos dos mercados.


Quem está no governo tem o controle do processo porque cabe a ele definir as regras do jogo e prever suas conseqüências. Além disso, há uma dupla blindagem para suas ações: aquela decorrente do clima cívico que se seguia a qualquer plano de estabilização, e o desconhecimento da opinião pública em geral sobre as complexidades dos mercados de derivativos."

Terra Magazine


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