sexta-feira, agosto 03, 2007

NÃO LEVE LIXO PRA CASA...








A Folha de São Paulo não assimilou a nomeação de Nelson Jobim como ministro da defesa. A capa da edição de hoje ( 26.07.2007) reduz o fato a níveis absurdos (porque seria impossível ignorar), e prefere destacar uma frase informal do presidente Lula, de que tem medo de avião. No entanto, a capa também é reveladora: a "República de Congonhas" não aceitou por completo que Nelson Jobim, ex-ministro de FHC, ex-presidente do STF, jurista respeitado, um "quadro de credibilidade" da dita elite branca, saído de seu próprio meio, pudesse colaborar com um governo que eles classificam com os piores e mais pejorativos adjetivos, ao desprezar as mínimas regras de boa educação quando existe um debate de discordância de opinião.


"República de Congonhas" é um termo cunhado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, que faz referência à "República do Galeão", um grupo golpista de empresários, jornalistas e políticos liderado por Carlos Lacerda, e que conspirou abertamente contra o presidente Getúlio Vargas.


Mas Lula não é Getúlio. E as artimanhas de José Serra, Otávio Frias Filho e a família Marinho, chefes da "República de Congonhas", se espatifaram na pista com a escolha do novo ministro, pelo menos momentaneamente.


O jornal New York Times, maldoso como sempre, classificou de ato astuto do presidente Lula para colocar fim à crise. "Como jogar sujo com um dos nossos?" Deve ser a pergunta que martiriza as cabeças dos Rasputins a serviço do Palácio dos Bandeirantes. Alguns desses, rápidos em encontrar soluções para a dúvida. Este "um dos nossos" pode levar a dois fatos: Jobim se tornar um nome nacional que taxie na mesma pista eleitoral de José Serra ou virar vedete da mídia, visando ridicularizar a autoridade do presidente. Nenhuma das duas hipóteses interessa a Serra, personalista ao extremo.

Mauricio Dias, diretor-adjunto da revista Carta Capital, em entrevista ao Conversa Afiada , analisa a virulência golpista da "República de Congonhas: "Mas não adianta, não adianta. Isso tem sido uma constante no governo que tem recuado muito, recuado em certas coisas fundamentais e alguns dos seus ministros fazem um esforço impressionante e lamentável de se tornarem palatáveis para esse pessoal que não perdoa e é implacável. Agora, houve um momento, ainda há em setores do governo uma crença de que a imprensa vai recuar e a imprensa não vai recuar porque aí soma-se, inclusive, problema político e problema de preconceito."

Análise precisa. O novo ministro foi torpedeado logo nas primeiras horas, com a pena histérica de Eliane Cantanhêde, sempre disposta a textos desprovidos de lógica. Algumas pérolas: "Diz-se que Nelson Jobim é meio esquentadinho, mas não louco a ponto de rasgar dinheiro. Pois parece que ele começou a rasgar dinheiro na noite de terça-feira, quando aceitou o Ministério da Defesa". Ou ainda: "... mas foi mais um a cair na lábia de Lula e na força de atração do poder." Mais direta: "Jobim, portanto, vai ter que anotar na sua mesa de trabalho algumas palavras-chave: desmando, corrupção, sabotagem, ganância."


A capa da FSP resume um estágio do jornalismo que mostra, pela enésima vez, que o que está em jogo para este setor da chamada oligarquia paulista, e à reboque a brasileira, não é o bem do Brasil, não é a apuração do acidente, não é a melhoria do setor aéreo. O que está em jogo é uma campanha covarde de tomada do poder a todo custo, nem que para isso seja utilizada a dor das vítimas indefesas da tragédia, o que inclui seus familiares.


O que está em jogo, para Serra e tripulação, é o seu projeto doentio de poder, que não mede esforços para pousar, como fazem as moscas varejeiras, nas chagas que se abrem diariamente como resultado de 500 anos de governos oligárquicos neoliberais do Brasil.

Mas não decolarão.

Pois estamos de olho. Estamos atentos. Estamos transformando.

Manoel Fernandes Neto é jornalista e editor da revista Novae.

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