quarta-feira, dezembro 16, 2009

Por que ninguém fala de guerra em Copenhague?
















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Alguns números da máquina de guerra americana

os 400 bilhões de dólares de gastos militares diretos anuais dos Estados Unidos são equivalentes à soma do orçamento de defesa de todos os demais 192 países da Terra.

- Os americanos têm cerca de 2,4 milhões de homens e mulheres vestindo algum uniforme militar.

- 12% de todos os universitários americanos que obtiveram ajuda financeira para se matricular na faculdade são financiados por alguma instituição militar.

- Os gastos do Pentágono são maiores que o de qualquer empresa americana e, ao contrário do que ocorre no restante da atividade produtiva, são gastos que não diminuem quando a economia está em períodos de declínio. Isso cria em diversos setores da economia uma dependência doentia dos contratos com o Departamento de Defesa.

- Atualmente, os EUA são a única potência militar capaz de atingir com mísseis nucleares qualquer capital do planeta e de lutar três guerras convencionais simultâneas longe de seu território. O orçamento militar americano é cerca do dobro do faturamento dos três maiores gigantes da economia dos Estados Unidos, a Wal-Mart (220 bilhões de dólares), a Exxon (190 bilhões) e a General Motors (177 bilhões).

- mais de 700 bases militares espalhadas pelo mundo.

- 1/3 do petróleo queimado pelos EUA vai para a máquina de guerra.

- o único país que usou bombas atômicas contra populações civis (Hiroshima e Nagasaki).

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NAOMI KLEIN, em Copenhagen: Entrevista

15/12/2009, Jennifer Prediger, Grist.org, in The Nation -- http://www.thenation.com/doc/20091221/goldstein 

Sentei com Naomi Klein para uma entrevista exclusiva, para discutir o que está acontecendo nas ruas de Copenhagen, que mensagens há, que mensagens não apareceram e o que saiu errado, lá, muito, muito errado.

Katherine Goldstein: Você escreveu sobre a agressividade da Polícia dimanarquesa contra manifestantes pacíficos, até agora. Sábado, foram mais de 1.000 presos, pessoas que apenas estavam no lugar errado, na hora errada. O que lhe parece isso?

Naomi Klein: Copenhagen é cheia de coisas maravilhosas, a cultura das bicicletas e a energia eólica, coisas que impressionam. Mas a cidade investiu muito no marketing para converter Copenhagen em "Hopenhagen", para conseguir que a cidade fosse parte desse acordo histórico. Porque a cidade investiu tanto nessa imagem positiva, a Polícia agiu agressivamente. Claro que tudo isso é muito mais do que isso. Trata-se do planeta de todos. O que está acontecendo nessa conferência – é que há mais coisas em jogo do que a imagem de Copenhagen. A polícia prendeu ativistas e organizadores, prisão 'preventiva' – como no caso de Tadzio Mueller. Está prendendo militantes que pregam a não-violência, uma noite antes da manifestação.

Não me preocupo com a segurança das pessoas, mas temo que possa haver prisões em massa. Quanto às pessoas, acho que todos sabem que a causa é de tal importância que vale o risco de afrontar a Polícia e ser preso.

Nosso trabalho como jornalistas e ativistas é expor a verdade. E a verdade é que os negócios que se discutem nessa conferência não consideram a realidade da ciência e não foram construídos com vista a um mundo mais justo. A questão é moral. A quantidade de dinheiro que se discute na conferência [que os países ricos deveriam pagar aos países pobres] é insuficiente, e todos sabem disso. O processo conduzido pela ONU está completamente desencaminhado e fora de controle.

Há também o enorme problema com a mensagem difundida por ONGs e ativistas – "seal the deal" ["assinem o acordo"] – em Copenhagen. Isso significa que teríamos de ter um acordo [sobre o clima], qualquer acordo e a qualquer custo. Essa mensagem tem de se mudada rapidamente. O que está em discussão e talvez venha a ser acordado lá NÃO salvará o mundo. Não nos interessa qualquer acordo.

Chefes de Estado começam a chegar e também a delegação dos EUA, que chega na 4ª-feira. Os negociadores dos EUA, entre os quais o senador Kerry, desperdiçaram quantidades enormes de energia e boa-vontade. Quantidades enormes.

Sei que os leitores do The Huffington Post talvez não gostem do que vou dizer, mas os Democratas desperdiçaram muitas oportunidades.

Vimos o apoio dos EUA, depois do 11/9; vimos novamente, na eleição de Obama. Tanta gente estava tão feliz, porque parecia que os EUA se estavam engajando novamente no processo da discussão do clima. Acho que aquelas emoções fizeram mais mal que bem. Os países relaxaram, enfraqueceram as reivindidações e, agora, estão chegando com metas menores, como o Japão. Os EUA baixaram a altura do obstáculo e fixaram metas tão baixas , que a coisa me parece mais destrutiva, hoje, do que já foi.

Melhor seria se os EUA se mantivessem fora das negociações. Não sei, francamente, o que os negociadores dos EUA vieram fazer em Copenhagen.

Quando o principal negociador dos EUA Jonathan Pershing propõe que os EUA paguem 1,5 bilhão de dólares como contribuição, e diz que "só os EUA foram capazes de tal generosidade", os americanos não fazem ideia de o quanto isso insulta e agride o resto do mundo. Os EUA emitem muito e essas emissões causaram o problema que o mundo enfrenta hoje. Não há NENHUMA generosidade nessa atitude. A questão é a responsabilidade moral e, quanto a isso, os EUA omitem-se hoje, como se omitiram sempre.

No artigo que escrevi para Rolling Stone sobre "o ódio climático", cito John Kerry: "É imperativo que os EUA procedam de modo responsável, porque o ódio cresce, em todo o mundo, alimentado por encaminhamentos errados na discussão sobre o futuro do planeta. Alimentado (também) pelo ódio climático, o antiamericanismo só continuará a crescer em todo o mundo.


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