quinta-feira, novembro 11, 2010

"resíduos de óleo incomuns"

Se fosse aqui no Brasil a culpa era do governo...

Rolls-Royce atrai críticas com reação a explosão de turbina
A Rolls-Royce PLC se tornou alvo de críticas por causa de sua fraca reação pública à explosão de uma de suas turbinas num superjumbo Airbus A380, mas especialistas em aviação dizem que uma solução rápida para o problema vai minimizar qualquer dano sério à reputação da empresa britânica.

A explosão de uma turbina Rolls-Royce Trent 900 num jato da Qantas Airways Ltd. quinta-feira passada atraiu atenção mundial porque o A380 é o maior avião de passageiros do planeta e a Qantas paralisou rapidamente sua frota de seis dos aviões de dois andares.

Ontem, outra aérea, a Singapore Airlines Ltd., informou que vai substituir os motores Trent 900 atuais com novas unidades do mesmo modelo em três de seus onze A380. Os aviões estavam parados em Londres, Melbourne e Sydney e voaram ontem de volta a Cingapura depois que inspeções revelaram "resíduos de óleo incomuns".

O diretor-presidente da companhia aérea, Chew Choon Seng, disse que os três aviões ficariam parados por um ou dois dias para trocar as turbinas. "A turbina Trent do A380 tem sido confiável até agora. Desde que começou a ser usada em outubro de 2007 - já faz três anos - ela já realizou 10.000 voos, 100.000 horas de voo e transportou 4 milhões de passageiros. Temos turbinas disponíveis para reposição", disse ele.

Depois do incidente com seu A380, o diretor-presidente da Qantas, Alan Joyce, seguiu o procedimento padrão das companhias aéreas e realizou entrevistas coletivas para discutir possíveis pistas encontradas pelos investigadores. Joyce disse segunda-feira que os motores "não estavam com o desempenho de acordo com os parâmetros" esperados.

A Airbus e as outras companhias aéreas que operam o A380 com turbinas da Rolls-Royce também comunicaram suas reações ao incidente. Já a Rolls-Royce emitiu apenas dois pequenos comunicados em escrito afirmando que está checando e começando a entender o problema.

A empresa não quis comentar mais nada e afirmou que seu próximo comunicado sobre a questão sairá amanhã. Sua ação caiu 3,05% ontem, para 588 pence na Bolsa de Londres.

A lacônica reação da Rolls-Royce a crises anteriores - como desafios de engenharia complexos que afetaram turbinas de jatos regionais e de aviões de dois corredores - sugere uma ação calculada. A empresa britânica tem um histórico de sobreviver a situações difíceis com o mínimo possível de comentários ao público, ao mesmo tempo em que sua diretoria realiza esforços intensos para proteger sua reputação com soluções sólidas e técnicas para o problema. Um porta-voz da Rolls-Royce não quis comentar a política de relações públicas da empresa.

A comunicação exígua é frustrante para a Airbus, a Qantas e mesmo alguns empregados da Rolls-Royce, dizem pessoas a par da situação. Um porta-voz da Airbus, filial da European Aeronautic Defence & Space Co., disse que a empresa está cooperando com a Qantas e a Rolls-Royce para entender e solucionar o problema.

A Rolls-Royce também tem mantido silêncio sobre os detalhes em torno dos problemas recentes com um motor Trent 1000 que está desenvolvendo para o novo 787 Dreamliner, da Boeing Co.; sobre o pouso forçado de um Boeing 777 da British Airways PLC no Aeroporto de Heathrow, em Londres, em janeiro de 2008; e sobre problemas crônicos em algumas turbinas que quase paralisaram certos jatos da Empresa Brasileira de Aeronáutica SA há dez anos (leia mais abaixo).

Não foram divulgados detalhes sobre a responsabilidade legal da Rolls-Royce nesses incidentes.

"Já aconteceu isso com eles e a abordagem foi 'vai passar'", disse Keith Hayward, diretor de pesquisa da Academia Real de Aeronáutica, em Londres, que há muitos anos coopera com a Rolls-Royce.

Parte do problema é que a Rolls-Royce vende seus produtos para outras empresas e não para pessoas físicas, como fazem as companhias aéreas. "A estratégia de relações públicas tem que refletir a natureza dos negócios, e a Qantas e a Rolls-Royce têm negócios muito diferentes", disse Andy Mayer, consultor independente de comunicação estratégica em Londres que já trabalhou para a BP PLC nas crises que ela enfrentou alguns anos atrás.

Outro elemento importante é evitar passivos financeiros e judiciais gigantescos que podem advir de lapsos substanciais de segurança aérea.

O distanciamento da Rolls-Royce também é algo cultural, segundo autoridades da indústria aérea. A empresa é comandada principalmente por engenheiros que preferem deixar a sofisticação e as boas vendas de seus produtos falarem por si. "O risco para a reputação deles vem mais da rapidez com que resolvem isso e de como se comunicam", disse Andrew Charlton, diretor executivo da consultoria Aviation Advocacy.

O incidente da Qantas ocorreu ao mesmo tempo em que a Rolls-Royce já estava na defensiva em relação a problemas com um modelo diferente de turbina que teve problemas severos em testes no 787. A Rolls-Royce informou num comunicado segunda-feira ter "certeza" que os dois incidentes "não são relacionados".

Em janeiro de 2008, as turbinas Rolls-Royce de um Boeing 777 da British Airways ficaram entupidas de gelo e perderam potência pouco antes de um pouso forçado em Heathrow. Ninguém morreu, mas o incidente gerou uma caçada mundial por respostas.

Desde o início, os executivos da Rolls-Royce minimizaram a suspeita dos investigadores de que o problema era no projeto da turbina. Eles também mantiveram o silêncio característico com a imprensa - e até com alguns clientes importantes. Autoridades de segurança da American Airlines, da AMR Corp., que opera vários jatos 777 com turbinas da empresa, reclamaram repetidamente que receberam atualizações inadequadas da fabricante de turbinas.

Mas a Rolls-Royce apresentou alguns de seus mais graduados engenheiros e especialistas em sistemas de combustível para responder aos questionamentos sobre o problema. Então, quando as autoridades de regulamentação exigiram mudanças imediatas, a Rolls-Royce estava preparada para instalar novos sistemas de resfriamento de óleo nos 777 e em alguns modelos da Airbus.
The Wall Street Journal